quarta-feira, 9 de março de 2011

O Bordado, O Pecado e A Graça de Deus

Hoje começa o período da Quaresma. Tempo de reflexão, sobre nossos erros, nossas falhas, nossos pecados. Tempo de usar esta reflexão como uma empresa que faz o balanço do seu ano, se foi positivo ou negativo e quais as metas para o próximo ano. Mas muitas pessoas acabam com dúvida, e vêem a Quaresma como um período de sofrimento, escuro, que soa como um suave masoquismo botando o dedo nas nossas feridas apenas para lembrar o sofrimento do erro. Isto não é Quaresma. Entretanto, é complicada mesmo a relação entre o nosso Pecado e a Graça de Deus.
Para compreender isto, devemos lembrar, primeiro, que temos uma natureza divina. Fomos criados por Deus com todo o amor e carinho, e apenas a nós ele proferiu a belíssima frase: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Note também que me refiro aqui a Deus como Deus-Trino, Pai, Filho e Santo Espírito). Porém também temos em nosso ser uma natureza pecadora. O fruto proibido. Carregamos em nós todos os sentimentos maus que nos brotam, as vezes sem nosso querer – aquele “não consigo perdoar tal pessoa”- e que foram semeados com Adão e Eva. Por isso dizemos que carregamos o Pecado Original. Mas como essas duas naturezas se relacionam? Vou contar uma história:
Eis que havia uma mulher que adorava bordar suas toalhas, panos de prato, crochês e tantas outras belas coisas. Ela bordava belissimamente. Um dia sua filha pequena, uma criança, pediu que a mãe a ensinasse a bordar. Ela admirava muito o que a mãe fazia, pois no final era tudo muito belo. Então começou a aprender com a mãe. Estava bordando um desenho em sua toalhinha de rosto. Depois de um tempo, a menina ficou muito triste. Seu desenho estava muito desfigurado e incompleto. Ela pediu ajuda a sua mãe e elas, rapidamente, terminaram o bordado. No final, a menina perguntou o que estava fazendo de errado. A mãe respondeu, com enorme carinho, que a filha estava se preocupando com a face errada do bordado. Ela estava cuidando muito a face em que os fios passam por trás do pano, e não com a face onde os fios formam um belo traçado. E ela não conseguia terminar o desenho da outra face porque não estava focada nele.
Não sei se a menina tinha capacidade para entender tudo isso, mas é só uma história. Nela, a Graça de Deus aparece como o belo traçado que os fios formam e o pecado aparece como os nós, em baixo do traçado. Tudo isso ocorre na “toalha” de nossa vida. E o pecado é assim mesmo, deixa nossa vida feia, desfigurada, estranha se olharmos apenas para ele. E a Graça de Deus torna nossa vida bela, agradável aos olhos de quem a vê. Mas essa relação tem seus desafios. Se nos preocuparmos apenas com nossos pecados, nunca observaremos a beleza que é a Graça de Deus em nossa vida. Mas se quisermos apenas a Graça de Deus e não lembrarmos que temos pecados por trás dessa beleza toda, caímos no erro da soberba, do “se achar” e nosso tombo é feio, pois os fios daquele bordado estavam firmes no lado “feio”, no lado do pecado, ou seja, lembrando que devemos ser humildes. São nossas falhas, erros, pecados, quando arrependidos verdadeiramente, impulsionam para uma vivencia ainda melhor de nossa condição humana e nos livra de todos os perigos das depressões e discussões depreciativas que vemos no mundo hoje.
O texto ficou meio longo, mas espero que tenham entendido a mensagem. Desejo a vocês uma boa Quaresma, uma boa reflexão sobre nossa condição de ser humano, limitado e agraciado, e que sigam firmes na esperança da Páscoa que há de vir em breve. Ah, e lembrem que quando o bordado estiver difícil e vocês acharem que estão sendo tentados a errar demais e falhar, peçam ajuda à nossa Mãe que está lá no céu e que sempre vem até nós, quando pedimos, nos ajudar a bordar, pois ela nunca falha nem nos abandona.




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